Governo de Sergipe fortalece cuidado com pessoas com neurodivergência no estado

Crédito: Fotos: Erick O'Hara

Unidade estadual CER IV se consolida como referência no acompanhamento especializado e no suporte às famílias

O Centro Especializado em Reabilitação José Leonel Aquino (CER IV) é referência no atendimento integral a pessoas com deficiência e transtornos do neurodesenvolvimento. Vinculado à Secretaria de Estado da Saúde (SES), o serviço atende a 36 municípios sergipanos, oferecendo reabilitação especializada para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outras neurodivergências. Desde a inauguração do serviço ofertado pelo Governo do Estado, há quatro anos, mais de 620 crianças neurodivergentes passaram por múltiplos atendimentos na unidade.

A reabilitação intelectual e voltada ao TEA visa resgatar autonomia e qualidade de vida dos usuários por meio da estimulação precoce, orientação à família e cuidadores, além de práticas que auxiliam o desenvolvimento da aprendizagem, pensamento, emoções e comportamentos. Nos últimos anos, o CER IV ampliou o acesso à reabilitação e ao cuidado dos pacientes, promovendo avanços importantes, como o crescimento no número de atendimentos, a eliminação de filas históricas e a implantação de novos serviços especializados.

De acordo com o diretor do CER IV, André Lucas Lima da Silveira, a consolidação do serviço é fruto da expansão da equipe, de melhorias estruturais e da reorganização do fluxo de pacientes. “Quando o Centro Especializado em Reabilitação José Leonel Aquino foi inaugurado, há quatro anos, havia muita dificuldade de contratação, porque existe um vácuo de profissionais. Mas, hoje, conseguimos incluir a psiquiatria infantil, neuropediatria, pediatria, além das demais especialidades da multidisciplinaridade, como psicologia, neuropsicologia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e terapia aquática, que é uma terapia adjuvantes ao tratamento TEA”, destacou.

Porta de entrada

No CER IV, as pessoas com TEA entram pela regulação a partir do encaminhamento das Unidades Básicas de Saúde (UBS) dos municípios das regionais que abrangem o serviço. Na unidade, eles passam por acolhimento inicial, onde são avaliados conforme critérios de elegibilidade para poder ter acesso à reabilitação. Quando incluídos no fluxo de atendimento, ingressam no Programa Terapêutico Singular (PTS) – um plano individualizado, com metas específicas e duração que varia de três meses a um ano, dependendo das necessidades clínicas e comportamentais do paciente. 

A dona de casa Edileuza Barreto da Silva, 36, mãe de Kalel Muniz, 7 anos, de Nossa Senhora das Dores, relata uma mudança significativa desde que o filho iniciou o tratamento no CER IV. Kalel, que tem TEA nível 2 de suporte, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e ansiedade apresentava agressividade e dificuldade de convívio familiar e escolar. “Depois daqui, meu filho passou a se concentrar melhor, diminuiu as brigas com os irmãos e teve melhor desempenho escolar, chegando a passar de ano com notas excelentes”, conta.

A cuidadora de idosos Daniela dos Santos, 37, mãe de David Vieira dos Santos, 10, de Nossa Senhora do Socorro, também viu o filho transformar-se ao longo do acompanhamento no CER IV. Com TEA nível 3, David era agressivo, ansioso e tinha grande dificuldade de comunicação. Durante as intervenções com psicólogos e fonoaudiólogos, ele passou a usar palavras, expressar afeto e reduzir comportamentos agressivos. 

David recebeu alta da reabilitação e continua com acompanhamento profissional fora da unidade, já que as terapias precisam ser contínuas para o TEA. Mas retornou ao CER IV para acompanhamento no Núcleo de Acolhimento em Terapias Especializadas (Nate), por meio do qual tem acesso ao tratamento com canabidiol, iniciada há nove meses. “Além de todas as melhorias de comportamento que ele teve na reabilitação, agora, com o uso do canabidiol houve uma melhora significativa em episódios de agressividade e agitação”, afirma Daniela, que destaca ainda o acolhimento recebido pela equipe. “Esse acolhimento foi essencial especialmente no período em que não tinha condições de buscar atendimento particular”.

Acolhimento

Outro diferencial do CER IV é o acolhimento às famílias dos pacientes, a partir de iniciativas e projetos em parceria com a SES e com a Secretaria de Estado da Assistência Social, Inclusão e Cidadania (Seasic), a exemplo do ‘Cuidando de quem cuida’, que disponibiliza refeição e lanche para pacientes e um acompanhante no dia de atendimento na unidade, assim como proporciona espaços terapêuticos e atividades aos pais, reconhecendo a importância de cuidar dos responsáveis pela pessoa com TEA para um atendimento eficaz e o bem-estar familiar.  

Para André Silveira, o CER IV tem uma importância para Sergipe não só médica, como social. “Temos programas que atendem aos pacientes com TEA e às mães dos pacientes, já que nenhum desses pacientes chega sozinho ao serviço”, considera. 

A gerente operacional da Reabilitação Intelectual/TEA da unidade, Danniella Gouveia, reforça a importância do acolhimento à rede familiar. “A unidade recebe pacientes de todos os níveis de suporte, inclusive suporte 3, que tem sido crescente. Além das terapias, o CER IV desenvolve atividades destinadas às mães e cuidadores, com rodas de conversa, cursos, oficinas e suporte emocional. A unidade é um ambiente onde a criança se sente segura e as mães, que são a maioria dos acompanhantes, encontram acolhimento e orientação, o que torna o processo de reabilitação mais efetivo”, ressalta.

Evolução 

O neuropediatra Rodrigo Araújo destaca que muitos pacientes chegam ao CER IV com grandes desafios, especialmente no comportamento, comunicação, socialização e manejo emocional e explica que o trabalho integrado da equipe multidisciplinar permite acompanhar de perto o progresso das crianças, com discussões clínicas, revisão de prontuários e construção de estratégias terapêuticas alinhadas entre psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e médicos. “Esse acompanhamento contínuo é fundamental para a evolução gradual das crianças nas questões que concernem ao seu nível de desenvolvimento”, avalia.

A autônoma Rayane Silva, 34, mãe de Emanuel, 3, de Aracaju, vive uma experiência marcada por superação. Emanuel tem TEA nível 2 e deficiência visual decorrente de catarata congênita e glaucoma e quando chegou ao CER IV estava reaprendendo a enxergar após uma cirurgia para colocação de lente intraocular. “Antes do tratamento, ele vivia tropeçando, caindo e se batendo nos móveis. Após iniciar a terapia visual e do TEA, Emanuel passou a andar sozinho, subir degraus, correr, interagir com outras crianças e emitir novas palavras. Aqui ele tem acompanhamento de fisioterapia, psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional”, conta.

Para a mãe, o CER IV é essencial no desenvolvimento de Emanuel. “Sem os estímulos ele não evoluiria. Aqui eu me sinto segura. Ele é acolhido, bem tratado, e já chega feliz, sabendo até o caminho das salas”, afirma Rayane Silva. 

Referência 

Além de um olhar diferenciado para a reabilitação de pessoas com TEA, o CER IV oferece reabilitação física, auditiva, intelectual e visual; ergoespirometria para reabilitação cardiopulmonar; distribuição de órteses, próteses, bolsas de ostomia e meios auxiliares de locomoção. O equipamento da SES tem sido reconhecido nacionalmente pela qualidade do atendimento. Segundo André Lucas Lima da Silveira, em visita à unidade neste ano, representantes do Ministério da Saúde elogiaram a estrutura física e a diversidade de serviços e avaliaram a unidade como uma das melhores do Norte e Nordeste. E a implantação do Nate e do Ambulatório de Imunoneurologia e Genética Médica no espaço do Centro Especializado reforçam ainda mais o alcance dos resultados na reabilitação dos sergipanos com TEA. 

O diretor do CER IV informa, ainda, que, frequentemente, o centro recebe visitas e pedidos de gestores de outros estados interessados em replicar o modelo de organização, fluxo assistencial e integração multidisciplinar da unidade. “Pela reverberação dos nossos ganhos, outros estados têm solicitado conhecer nossa unidade. Lembrando, também, que o  CER IV dispensa bolsas de colostomia para pacientes ostomizados na reabilitação intestinal e oferece órteses, próteses e materiais específicos, como cadeira de rodas, muletas, andadores, cadeiras de banho e aparelhos auditivos aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS)”, pontua.

Fonte: Agência Governo do Estado SE

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