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O uso cotidiano e científico da palavra cidade

Cidade é um vocábulo popular e seu uso cotidiano se dá sem necessidade de maior definição. Não há o que estranhar, pois ele nos ajuda a descrever o dia a dia. Dizemos a todo momento: “moro na cidade”, “nossa cidade tem muitos problemas”, “a vida nas grandes cidades é um inferno”. Mas o que é uma cidade? Talvez possamos contribuir ao apontar certas características e curiosidades.

Para começar, arrisco-me a dizer que a palavra cidade nomeia uma aglomeração no território, historicamente, duradoura e heterogênea, a apresentar normas de convivência e funções econômicas, culturais e políticas. Sua importância para o processo de civilização é extraordinária: a cidade é o lugar da elaboração da escrita, da filosofia, da arte, do direito, da ciência e do mercado.

Na língua portuguesa, a palavra cidade deriva do latim civitate, a mesma origem para outras como cidadão ou civilização. Não à toa, na Grécia antiga, cidadão era aquele identificado à dada Cidade-estado, com seus direitos e deveres.

Ao inventariar as cidades mesopotâmicas com seus 5000 anos, os especialistas definiram a dominação política como a primeira função citadina. O modelo da cidade política se replicou por milênios. Os livros de arqueologia lembram que, para cada civilização clássica, havia uma grande cidade a representar sua riqueza, poder e esplendor. Sem dúvida, nossa memória alcança Roma e Constantinopla.

A retomada das rotas comerciais e, depois, a revolução da maquinofatura mudaram totalmente o que se entendia por cidade até então. As muralhas não eram mais os limites formais, e as paisagens bordadas pelas chaminés industriais indicavam a presença da fábrica no espaço urbano. De lá para cá, as cidades se espalharam por todos os continentes habitados.

No Brasil do presente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística considera como cidade todas as sedes dos 5.570 municípios. São cidades a pequena Serra da Saudade em Minas Gerais e a enorme São Paulo. A mineira tem pouco mais de 700 habitantes, enquanto a paulista tem milhões. Daí o leitor pode imaginar como é difícil usar o mesmo termo para designar realidades urbanísticas, econômicas e demográficas extremamente díspares.

Na prática, tamanhas diferenças dificultam o estabelecimento de critérios fixos para conceituar a cidade. O que seria mais fidedigno ao real? O critério populacional? A área territorial urbanizada? A taxa de riqueza produzida ou absorvida? Todos são critérios factíveis se utilizados em conjunto.

Para a primeira situação, podemos listar: cidade industrial, cidade jardim, cidade portuária, cidade política, cidade pós-moderna, cidade média, cidades globais. As derivações tendem a enfatizar a característica primaz das cidades adjetivadas.

A segunda circunstância é mais desafiadora e cabe contextualização. A partir da segunda metade do século XX, percebeu-se tendência mundial ao crescimento das cidades a ponto de gerarem grandes e integradas manchas de urbanização. Se as primeiras foram detectadas nos EUA, na Europa e no Japão, hoje são comuns nas Américas, na África e, mais ainda, na China. Para estes casos, criaram-se os termos metrópole, megalópole e metápolis.

No cotidiano, a palavra cidade vai continuar reinando. Ela tem uma história densa. Agora, para os técnicos e cientistas, os desafios só crescem. A revolução das redes e o aparecimento da internet das coisas abrem o horizonte para as mudanças, quem sabe, semelhantes às da ficção científica. Ah! Isso é tema para os próximos textos.

Alexandre Queiroz Pereira

Fonte: Diário do Nordeste

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