Saiba quem é Ricardo Nunes, o novo prefeito do município de São Paulo

Filiado ao MDB, Nunes foi vereador por dois mandatos e é ligado a associação de empresários da Zona Sul de SP e à Igreja Católica

Ricardo Nunes (MDB), 53, assumiu no mês de maio o comando da Prefeitura de São Paulo. Isso ocorreu devido ao falecimento de Bruno Covas neste mês. Nunes, em entrevista, afirmou que sua gestão será continuação fiel do que vinha sendo implementado pelo tucano. Opositores da gestão apontam Nunes como um político de direita ou até mesmo bolsonarista. Ele nega e diz que é de centro.

Foi da base da gestão Haddad até 2016, quando Gabriel Chalita (MDB) foi candidato a vice de Haddad no pleito daquele ano e os dois foram derrotados para a chapa João Doria e Bruno Covas (PSDB).

Naquela eleição, Nunes se reelegeu vereador e passou então a fazer parte da base aliada de Doria-Covas até ser indicado a vice no ano passado, após uma articulação do próprio João Doria, já no cargo de governador do estado. Em seus últimos quatro anos como vereador, Ricardo Nunes compôs CPIs como a dos bancos, que investigou a sonegação de ISS na cidade.

Entre políticos mais conhecidos cogitados para a chapa de 2020, como Marta Suplicy e Celso Russomanno (Republicanos), Nunes foi escolhido como vice à prefeitura para trazer o MDB (e seu tempo de TV) para a megacoligação de Covas e como aceno a um potencial apoio do partido ao projeto presidencial do governador João Doria (PSDB), interessado em apoio do MDB.

A ideia da campanha de Covas era transformar o político pouco conhecido na cidade em um símbolo do combate à corrupção, ressaltando sua atuação na CPI da sonegação tributária na Câmara Municipal, que investigou bancos.

Ricardo Nunes também é crítico do repasse bilionário de verbas da prefeitura para as empresas de ônibus da cidade em forma de subsídios, assunto que sempre gera tensão entre ele e o vereador Milton Leite (DEM), presidente da Câmara de Vereadores, que apoiou a indicação de Nunes para vice de Bruno Covas em 2020.

O ex-vereador também é profundo conhecedor das contas do município e fez parte da Comissão de Finanças da Câmara Municipal.

Em 2020, Nunes tem ido a agendas públicas nas quais Covas apareceu apenas virtualmente, como na semana retrasada, na inauguração de um hospital no campus da Uninove.

Além de político, Nunes é empresário, fundador da empresa Nikkey, que hoje possui diversas filiais. Foi presidente da AESUL (Associação Empresarial da Região Sul) e fundou a ADESP (Associação das Empresas Controladoras de Pragas do Estado de São Paulo) e a ABRAFIT (Associação Brasileira das Empresas de Tratamento Fitossanitário e Quarentenário).

Núcleo duro

A incógnita é como se dará a divisão de cargos do primeiro escalão com Nunes no cargo de prefeito. As principais secretarias são comandadas hoje por tucanos e aliados mais próximos do PSDB, como o presidente da Câmara, Milton Leite (DEM). O próprio MDB foi pouco contemplado até aqui, mas, com a máquina na mão, a tendência é de que o quadro mude.

O “núcleo duro” da administração, formado pelas pastas de Governo, Casa Civil e das Subprefeituras, é ocupado atualmente por auxiliares do convívio pessoal de Covas, sem interferência do então vice-prefeito.

Até assumir o cargo de forma interina, no último dia 2, Nunes só havia conseguido protagonismo na gestão em função das blitze realizadas em parceria com o Estado para coibir aglomerações. Como coordenador do grupo por parte da Prefeitura, fechou festas, restaurantes e bingos clandestinos. Em uma dessas ações, ganhou o noticiário por flagrar o jogador Gabigol, do Flamengo, em um cassino de luxo na zona sul.

Entrevista

O que significa para a cidade e para o senhor a morte de Bruno Covas? 

Não tenho palavras. Juro por Deus. O que você quer que eu fale? Uma tristeza enorme perder uma pessoa que amava essa cidade, que ama essa cidade. Mesmo com toda a adversidade ele nunca abaixou a cabeça. Ele deixou o exemplo de que as pessoas precisam lutar com confiança e garra. Um exemplo maravilhoso de amor à cidade. Meu raciocínio não está muito… Desculpe.

Como foram seus últimos contatos com o prefeito durante a semana? 

Estávamos trabalhando normalmente. Misto de trabalho e internação, claro, mas o tempo inteiro ele com o jeitão de preocupado, cobrando, pedindo para que as coisas caminhassem. A ocupação de leitos de UTI vinha subindo e ontem caiu para 77% e eu não pude mandar uma mensagem para ele, cara. Ele estava muito preocupado com isso. A relação era essa, ele perguntando se a cidade estava bem. Ficou preocupado com a cidade até o último momento, orientando a gente.

O que o senhor pode dizer a respeito de sua gestão a partir de agora? 

Continuação da gestão Bruno Covas. Não terá diferença. Temos o nosso plano de metas, o que o Bruno e eu falamos na campanha, vamos continuar as mesmas coisas. Não haverá mudança em nada que o Bruno planejou e definiu. Dizem que vou trocar secretários. É fofocaiada. Será uma gestão Bruno Covas até 2024. Não existe qualquer outra possibilidade a não ser honrar a memória dele e homenagear o carinho que ele tem pela cidade.

Qual característica marcante do prefeito o senhor destacaria? 

Ele repetia muito a frase do avô dele [Mario Covas] de enfrentar as adversidades sem abaixar a cabeça [em seu discurso de posse do segundo mandato de governador de São Paulo, em 1999, Mario Covas disse: “Não me venham falar em adversidade. Diante dela, só há três atitudes possíveis: enfrentar, combater e vencer”]. Era um líder. Ele fortaleceu muito a gente, a equipe dele.

Críticos do governo dizem que o senhor é de direita ou bolsonarista, diferentemente do Bruno Covas. Como o senhor responde a isso? 

Bolsonarista eu nunca escutei. É lógico que não sou. Eu sou um defensor da democracia, a minha linha é muito próxima da linha do Bruno. Defesa da democracia de forma absoluta. Sou uma pessoa de centro. Não sou de extrema-direita nem de extrema-esquerda. Tanto é que quando o Bruno foi internado, o PT soltou uma nota desejando melhoras ao Bruno e sorte para mim. Tenho relação ótima com PT, Podemos, DEM, Republicanos. Esses dias têm mostrado isso: diálogo amplo com todos os setores. Quando a gente ganha uma eleição, a gente passa a governar para todos os setores da cidade, para todo mundo.

Teremos um foco muito forte, que era do Bruno e é meu, de cuidar das pessoas mais necessitadas. Muita atenção aos mais vulneráveis. Tanto é que o Bruno me colocou para cuidar do Cidade Solidária. Sou uma pessoa de centro, repudio o radicalismo de ambos os lados.

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