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Com aumento real confirmado, novo piso nacional pressiona contas das prefeituras já em janeiro; gestores devem recalcular impacto na Lei de Responsabilidade Fiscal e na previdência municipal.
Enquanto as luzes de Natal enfeitam as cidades, nos gabinetes de Finanças e RH, a calculadora não para. A confirmação da projeção do salário mínimo para 2026 no valor de R$ 1.631,00 traz uma excelente notícia para a economia local e para o poder de compra do trabalhador, mas acende um sinal de alerta nos cofres municipais. Para os gestores públicos, esse reajuste não é apenas uma mudança na tabela de vencimentos; é um desafio de engenharia financeira que precisa ser equacionado antes do fechamento da folha de janeiro.
O aumento representa um ganho real acima da inflação, seguindo a política de valorização permanente. No entanto, muitas Leis Orçamentárias Anuais (LOAs) foram desenhadas meses atrás com estimativas conservadoras. Agora, a realidade de R$ 1.631 exige uma readequação imediata para evitar que o município comece o ano fiscal no vermelho.
O Efeito Cascata na Base e na Previdência
O impacto nas prefeituras é severo porque uma grande parcela do funcionalismo municipal — especialmente em cidades pequenas — recebe remuneração atrelada ao mínimo. Estamos falando de auxiliares de serviços gerais, merendeiras, pessoal de apoio administrativo e operacional.
Mas o “efeito cascata” vai além:
Indexadores e Pisos: Benefícios como insalubridade e gratificações muitas vezes são calculados sobre o salário base. Quando a base sobe, o benefício sobe junto, multiplicando o custo final. Além disso, categorias como os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) possuem piso nacional vinculado (dois salários mínimos), o que dobra o impacto do reajuste para essa categoria essencial.
Pressão no RPPS: Talvez o ponto mais crítico seja a previdência municipal. O novo valor reajusta automaticamente as aposentadorias e pensões pagas pelo Regime Próprio (RPPS). Em municípios onde o fundo previdenciário já opera com déficit atuarial (o Tesouro cobre a diferença), a conta recai integralmente sobre a arrecadação livre da prefeitura.
O Alerta da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)
Com a folha de pagamento mais cara, o índice de despesa com pessoal tende a subir. Prefeitos que estão no limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) — gastando perto de 51,3% ou 54% da Receita Corrente Líquida com pessoal — correm o risco de ultrapassar o teto logo no primeiro quadrimestre de 2026.
O que fazer agora? A recomendação é a prudência e a antecipação.
Simulação Imediata: O RH deve rodar a folha de janeiro com o novo valor simulado para entender o tamanho exato do impacto mensal.
Contingenciamento: Se a receita não crescer na mesma proporção, será necessário contingenciar (bloquear) outras despesas de custeio da máquina para garantir o pagamento dos servidores.
Revisão da LOA: Avaliar a necessidade de enviar projetos de lei para abertura de crédito suplementar à Câmara Municipal logo no retorno do recesso legislativo.
O Salário Mínimo de 2026 traz dignidade a quem serve o município na ponta, mas exige do gestor a responsabilidade de garantir que a conta feche, mantendo a prefeitura solvente e os serviços funcionando.
Fonte: Ministério do Planejamento e Orçamento
