Riscos Climáticos: O Desafio dos 85% e a Obrigação Municipal de Adaptação

Crédito: Banco de Imagens

Mais de 85% dos municípios brasileiros carecem de planos de adaptação climática. Com o aumento dos desastres, a gestão de riscos vira uma exigência fiscal e estratégica, forçando prefeitos a integrarem planejamento urbano e ciência.

O Brasil, com sua diversidade geográfica, é cada vez mais vulnerável a eventos climáticos extremos – de secas prolongadas a inundações catastróficas. No entanto, a grande maioria dos municípios (mais de 85%, segundo estudos recentes) ainda não possui planos formais de adaptação às mudanças do clima. Esse vácuo no planejamento não é apenas uma falha técnica, mas um risco fiscal e social de proporções gigantescas para qualquer gestão.

O que acontece em Porto Alegre ou no litoral de São Paulo pode se repetir em qualquer cidade que ignore a necessidade de adaptação. Por isso, a pauta da resiliência climática migrou da agenda ambiental para o centro da gestão pública, tornando-se uma obrigação legal e moral para prefeitos e governadores.

O Custo de Não se Adaptar: Um Risco para o Tesouro

A ausência de um plano de adaptação tem consequências diretas no orçamento municipal. Os custos de reconstrução após um desastre são sempre muito superiores aos de prevenção e mitigação.

A adaptação climática não significa apenas a Defesa Civil em ação; ela exige:

Infraestrutura Resiliente: A drenagem urbana, o saneamento e as obras de contenção de encostas precisam ser projetadas e construídas levando em conta os novos padrões de precipitação (mais intensos e concentrados).

Gestão de Riscos Integrada: O planejamento deve envolver diversas secretarias. O urbanismo define onde não se pode construir (zonas de risco); a saúde se prepara para picos de doenças transmitidas pela água (leptospirose, dengue); e a assistência social mapeia as populações mais vulneráveis para evacuações rápidas.

Dados e Ciência: É fundamental que os municípios utilizem os dados de centros como o CEMADEN e o INPE para montar um sistema de alerta local eficaz. Não basta apenas a previsão do tempo; é preciso entender a vulnerabilidade específica de cada microbacia ou encosta da cidade.

Oportunidades de Financiamento e a Busca por Novos Modelos

O risco, quando bem mapeado, pode se transformar em oportunidade de financiamento.

Fundos Governamentais: Projetos de adaptação e resiliência se tornaram prioridade para o Novo PAC e para as linhas de crédito da Caixa e do BNDES. No entanto, esses recursos só são liberados para municípios que apresentam planos técnicos bem elaborados.

Seguros Climáticos: Há um movimento crescente, especialmente no setor agrícola, para a adoção de seguros paramétricos (ou climáticos) que pagam indenizações rapidamente com base na ocorrência de um evento medido (como o volume de chuva), e não na avaliação dos danos. Governantes podem e devem explorar a contratação desses seguros para proteger ativos públicos e auxiliar a população de baixa renda.

Cooperação Externa: A agenda da COP-30 abre portas para parcerias e financiamento com organismos internacionais dispostos a investir em projetos de resiliência.

Para o gestor, o desafio é transformar a emergência em planejamento. A obrigação de adaptação climática é a nova fronteira da boa governança municipal, e quem não se planejar, arcará com os prejuízos – fiscais e humanos.

Fonte: Relatórios e estudos sobre capacidade adaptativa de municípios brasileiros

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