O ano de 2020 foi um ano atípico para todo o planeta graças ao Covid-19, ou, coronavírus. Esse processo de infecção e mortes em massa deixou ainda mais claro como as desigualdades entre os povos são reais e como estamos despreparados para qualquer risco que apareça de forma repentina. No Brasil, por exemplo, tivemos que aprender de última hora como tratar diversos aspectos, surfando em questões ideológicas e políticas para tentar salvar uma população, ou da morte, ou da falência. De fato, não estamos preparados como sociedade imediatista para desenvolvermos medidas para sair de uma crise iniciada em 2010, considerada uma “marolinha”, mas que continua nos empurrando para o mar, onde cada vez que surge algo para colocar empecilhos que não nos faz enxergar uma luz no fim do túnel. Assim, o Covid-19 veio para mostrar como a economia brasileira se encontra frágil e dependente, pior, nada é feito para que essa dependência mude de lado, criando uma servidão ao capital federal, por parte dos estados, esse que depende de capital externo, algo que não ouvimos falar desde a década de 80 e que para a nova geração parece nunca ter existido.
Chegando à reta final de 2020, um ano tão conturbado, movido por incertezas, imprevistos, insegurança, crises financeiras, prejuízos, perdas de planejamento e caos; observaram-se, também, mudanças importantes na gestão e novas possibilidades de desenvolvimento que antes, talvez, não eram visualizadas pela comodidade que existia no âmbito econômico, social e comercial e que podem contribuir para uma recuperação mais rápida do Brasil.
Ao realizar uma retrospectiva do ano em questão lembramos que no seu início a Associação Nacional dos Profissionais de Relações Internacionais – ANAPRI comemorou sua vitória ao conseguir profissionalizar a área. Agora, formandos dos cursos de Relações Internacionais poderão demonstrar, com devido reconhecimento, sua capacidade e funcionalidade no mercado de trabalho, provando como estes são necessários em qualquer esfera da sociedade em decorrência do avanço no desenvolvimento das Relações Internacionais que derrubou fronteiras e fez com que a necessidade do contato internacional se tornasse cada vez mais importante para o desenvolvimento local.
Este fato está relacionado ao contínuo avanço da inserção dos diversos atores no cenário internacional que buscaram sua introdução no global para garantir seu sucesso no local. Percebeu-se, portanto, a intensificação de uma prática que vinha ocorrendo nos últimos anos, mas de uma forma mais desenfreada: a descentralização das Relações Internacionais.
As relações exteriores deixaram de ser de propriedade do Estado como país, na verdade, até mesmo os próprios cursos de RI passaram a ter a necessidade de estudar a política externa levando em consideração a ação empresarial, corporativa, das organizações internacionais e das diversas organizações da sociedade civil, que intervém nas ações dos Estados.
Comprova-se esta mudança na importância dos atores sociais quando em 2015 a Agenda 2030 da ONU, descentralizou a responsabilidade do desenvolvimento como única do Estado. O lançamento da Agenda reconheceu que para um país mudar seu status e melhorar seus índices as mudanças deveriam acontecer desde o âmbito local ao global, envolvendo em suas práticas todos os atores presentes na sociedade, incluindo a integração positiva da comunidade empresarial. No entanto, o ano de 2020 que representou a década da ação – ou seja, 10 anos para o cumprimento das metas.
O lançamentoda Agenda pode contribuir para o plano de governo de qualquer Estado, Cidade e Município que queira incorporá-la; independente do seu tamanho este plano pode atingir seu desenvolvimento econômico, social, comercial e ambiental, tornando-a autossustentável. Mas como alcançar esta auto sustentabilidade e seu reconhecimento no exterior?
A internacionalização da cidade em conjunto com a implantação da Agenda 2030 podem alcançar este objetivo. Por exemplo, a busca por cooperação e parcerias de diversas estruturas no exterior podem garantir seu reconhecimento e difundir sua imagem, tornando possível a captação de verbas, que recebidas em dólares tornam-se de alta relevância, e a atração de investimentos estrangeiros. Estes últimos, quando são muito bem negociados por profissionais treinados e capacitados para esta função, podem garantir o desenvolvimento da cidade por anos.
Ademais, diferente do que a maioria dos gestores públicos acredita: uma cidade por menor que seja tem capacidade internacional, ou seja, quando muito bem preparada e estruturada qualquer cidade tem a capacidade de se desenvolver no mercado internacional. Este é o caso de diversos países ao redor do mundo que optaram pelo seu desenvolvimento comercial a curta escala para superar crises econômicas, como é o caso da Espanha e Portugal, essa primeira sendo exemplo internacional em Paradiplomacia. Na maioria das vezes, a deficiência desta ação está no desconhecimento de mercados com grande valor que não são visualizados por gestores sem o correto conhecimento para a área.
Por outro lado, ingressando no âmbito da cooperação internacional, é possível realizar parcerias com instituições tecnológicas ou universidades em diferentes partes do mundo para alavancar a educação de certo município, agregando valor significativo a este, promovendo intercâmbios de alunos e professores, realizando parcerias na área de pesquisas e projetos, e tornando seus produtos, ideias, projetos e realizações com valor e reconhecimento internacional.
Por último, é possível fomentar o turismo, quando uma cidade tem suas principais estruturas internacionalizadas pode ser que este setor se autodesenvolva atraindo capital, verbas e lucro para a cidade; quando não, ainda assim, facilita seu desenvolvimento atingindo os mesmos objetivos. Ainda por cima, a circulação pela cidade de diversos atores beneficia todas as suas estruturas e o planejamento econômico permite que seus gestores se aproveitem disso para, por exemplo, promover eventos nas datas com maiores visitas, entre outras opções que atraem recursos.
Portanto, assim como vários casos ao redor do mundo comprovaram, se cada município pensasse e trabalhasse de forma certeira seu autodesenvolvimento que implica na sua inserção no mercado internacional, como a adequação de um plano de desenvolvimento internacional, a recuperação do Brasil se daria de forma mais rápida e estável, garantindo o contínuo crescimento e bem-estar para as gerações futuras.
Por outro lado, pensando nesse futuro das cidades brasileiras, é possível prever que se estruturadas da maneira certa e com uma equipe formada em Relações Internacionais conduzindo sua presença e conexão no cenário internacional, pode-se alcançar um desenvolvimento contínuo até se tornar a maior parte delas em SmartCities. Isto é, uma cidade tecnológica e industrial muito bem desenvolvida que gere lucro e atrai grandes investidores devido ao seu polo tecnológico que não só se autossustenta, mas, também, se autodesenvolve.
Uma Smart City mostra-se como uma cidade automatizada, que integra as práticas sustentáveis, o desenvolvimento social e a profissionalização dos seus habitantes à geração de lucro, negócios e polos tecnológicos de pesquisas. É um espaço no qual o bem-estar social, ambiental e financeiro são integrados, e a cidade não regride, ao invés disso, está preparada para superar possíveis crises nacionais e internacionais através das suas conexões já estabelecidas e da sua infraestrutura que lhe garante um contínuo crescimento.
Esse projeto de preparação precisa ser estruturado levando em consideração as tendências internacionais e tomando um caminho próprio, sem depender do estado ou do governo federal para tomar suas próprias decisões. Uma estrutura consolidada de forma internacional hoje permite por exemplo a sustentação completa de uma folha de pagamento de uma prefeitura, tamanha é a qualidade e o desenvolvimento de investimentos.
Assim sendo, comprova-se que, com a extensão territorial e populacional do Brasil, um plano de recuperação nacional pode se tornar custoso, demorado e incerto. Ao invés disso, uma ação local pode garantir um crescimento a nível internacional daqueles municípios que trabalham em um plano de governo pensando em suas capacidades, desenvolvendo seus pontos fortes e fracos e visando sua auto sustentabilidade e desenvolvimento.
Para finalizar o ano, fundadores da ANAPRI, perceberam a deficiência do mercado internacional brasileiro e realizaram a abertura da Escola Nacional de Formação em Relações Internacionais – ENFRI, uma estrutura nova, formada a partir de uma nova perspectiva acerca de como pensar o mercado internacional. O objetivo principal é desenvolver profissionais verdadeiramente capacitados e treinados para atuarem e pensarem negócios internacionais. Mas, além disso, trabalhamos para desenvolver essa área e mostrar como qualquer segmento pode e está vinculado a este cenário; como, também, a visualizar oportunidades de negócios em diferentes partes do mundo, independente, do local de onde esse negócio pode iniciar.
*Carlos Rifan é Internacionalista e empresário, com mais de 10 anos de experiência trabalhando no mercado Internacional nos mais diversos segmentos. Tem amplo conhecimento acerca de negócios Internacionais em diferentes áreas. É presidente da ANAPRI – Associação Nacional dos profissionais de Relações Internacionais, e um dos seus fundadores.