Crédito: Incluir PraiAju oferece banho assistido para pessoas com deficiência, neurodivergentes e acolhidas por instituições sociais | Fotos: Ronald Almeida/Secom PMA
Qual distância é longa demais para realizar um sonho? Aos 50 anos, Marcelo Luís viajou de São Paulo a Aracaju para voltar a sentir plenamente o mar, algo que não vivenciava há 21 anos. Pessoa com deficiência e com dificuldade de locomoção, ele participou da última edição de 2025 do Incluir PraiAju, na capital sergipana, e se reencontrou com memórias afetivas que antes julgava distantes.
Promovido pela Prefeitura de Aracaju, por meio da Secretaria Municipal de Turismo (Setur), em parceria com o Projeto Estrelas do Mar, o Incluir PraiAju oferece banho assistido para pessoas com deficiência, neurodivergentes e indivíduos acolhidos por instituições sociais.
A iniciativa conta ainda com o apoio da Universidade Tiradentes (Unit) e das secretarias municipais da Família e da Assistência Social (Semfas) e da Juventude e do Esporte (Sejesp), reforçando a intersetorialidade em prol da inclusão.
Durante sua passagem pela capital, Marcelo deixou a cadeira de rodas para utilizar, pela primeira vez, uma das cadeiras anfíbias que garantem acesso seguro ao mar com apoio de equipe especializada. Para ele, o projeto rompe com o ciclo de isolamento vivido por muitas pessoas com deficiência ao mostrar que o lazer é um direito, e não um privilégio.
“É uma sensação de liberdade. As pessoas com deficiência acham que estão restritas a praias, a esses lugares que outras pessoas têm acesso. Tem pessoas que estão trancadas dentro de um quarto e acham que a vida acabou, mas hoje esse projeto está mostrando que há uma liberdade e também o direito de viver as mesmas coisas”, disse ele.
Marcelo reforçou que pretende divulgar a iniciativa em sua cidade, mencionando Aracaju como destino que acolhe e promove experiências inclusivas.
“Tive que me deslocar de São Paulo para outro estado para fazer parte desse projeto. Eu vou levar esse projeto para lá. Se um dia eu for entrevistado lá, eu vou dizer que em Aracaju tem um projeto muito lindo e que me deu acesso à praia”, completou.
Para Eline Costa, diretora do Departamento de Qualificação do Turismo e coordenadora do Incluir PraiAju, o relato de Marcelo demonstra que a iniciativa cumpriu a missão de atender tanto moradores quanto visitantes, oferecendo segurança, conforto e acolhimento.
O projeto começou em março, em alusão ao aniversário de 170 anos de Aracaju, e demonstrou impacto social suficiente para se tornar atividade fixa nas sextas-feiras. Ao longo do ano, foram realizadas 18 edições, atendendo 24 instituições sociais e 368 participantes na Praia da Cinelândia, na Orla da Atalaia, das 8h às 12h.
“Conseguimos cumprir a nossa missão de trazer acessibilidade ao banho e acesso a atividades ao ar livre para pessoas que têm dificuldade. Estamos proporcionando isso através do Turismo e felizes porque atingimos a nossa meta. No ano que vem, pensamos em ampliar com novas atividades. Neste ano, o público atendido foi bem diversificado, com idosos, pessoas com deficiência e pessoas neurodivergentes também”, destacou.
Segundo Eline, a expectativa para 2026 é ampliar o atendimento, especialmente ao público visitante, aproveitando a proximidade da rede hoteleira com a Orla da Atalaia para integrar ainda mais o projeto ao turismo da cidade.
“Então a proposta é trazer para o público de Aracaju e deixar aberto para o turista na cidade. O turista que chega em Aracaju já sabe que tem essa possibilidade. Como é que eles têm acesso? Ou vindo diretamente para cá ou também se inscrevendo no link que a gente tem lá no Instagram da Setur”, disse ela.
Entre os voluntários está Luíza Leite, de 20 anos, aluna de Educação Física da Unit, que realizou seu estágio por meio do projeto. Ela ressalta o valor social da experiência.
“O nosso objetivo no estágio é promover saúde e bem-estar para a população, para a saúde coletiva. Então aqui nós proporcionamos atividades lúdicas, brincadeiras, e depois disso a gente promove o banho de mar assistido. A gente consegue proporcionar esse momento para vários públicos diferentes, e nesses seis meses de estágio que nós tivemos, foi muita riqueza, foi muito amor, muito respeito, muito carinho, sempre com muita empatia”, afirmou.

A professora e coordenadora de estágio da Unit, Lisane Menezes, destaca que a acessibilidade oferecida tem transformado a relação de muitos participantes com o mar. Segundo ela, o projeto também permite aos alunos a vivência prática sobre intervenção com pessoas atípicas.
“Ele traz uma perspectiva para a comunidade, atividades recreativas, a possibilidade de inclusão e, para os alunos, vivenciar os conhecimentos teóricos que aprendem em sala de aula, principalmente no tocante à ampliação de conhecimentos nessa área de intervenção com pessoas atípicas. É um projeto cujo valor social não se mede, foi muito bem pensado pela Prefeitura dessa nova gestão”, destacou.
Luciana Prado Menezes, integrante da equipe de uma das unidades de acolhimento participantes, reforçou a importância da convivência comunitária proporcionada pela iniciativa.
“Eu acho muito importante porque essas crianças, assim como todos, precisam ter convivência comunitária, precisam estar incluídos na comunidade, é uma forma deles fazerem isso através dessas atividades, dessas parcerias que são realizadas com a prefeitura. As crianças que são pessoas com deficiência também aproveitam o espaço com os demais, têm a cadeira de roda adaptada”, disse ela.
Para Jader Machado, terapeuta em habilidades sociais da clínica Instituto do Ser, que participa regularmente das ações, o banho assistido amplia sensações e estimula a socialização.

“Proporcionar isso para essas pessoas, que dependem de ter segurança, de se sentirem acolhidos para experienciar esse momento, é muito importante. É muito prazeroso e rico trazer essa experiência para os nossos aprendentes. A socialização é fundamental para todo mundo, principalmente para pessoas neurodivergentes, e algumas apresentam essa dificuldade de socializar. E nesse entorno, a gente consegue montar uma estrutura que traga segurança e eles consigam também estarem sendo estimulados nesse aspecto social”, afirmou.
Fonte: Agência Aracajú de Noticias
