A Coreia do Norte decidiu não enviar mais lixo em balões ao Sul após ameaça de transmissão da música pop na fronteira
A Coreia do Norte, comandada pelo ditador Kim Jong-un, declarou que não enviará mais lixo por meio de balões para o país vizinho, após ter realizado seu terceiro envio em menos de uma semana. Essa decisão veio horas depois de o governo norte-coreano ser ameaçado por Seul com a transmissão de K-pop na fronteira. O regime de Kim Jong-un prometeu, contudo, retomar essa prática caso ativistas sul-coreanos voltem a enviar panfletos políticos ao Norte.
Segundo informações do governo sul-coreano, foram identificados 720 balões carregando sacolas com objetos como bitucas de cigarro desde a noite de sábado. Cerca de 20 a 50 balões foram lançados a cada hora, conforme relatado pelo Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul.
Balões com lixo
De acordo com reportagem da Reuters, esses carregamentos chegaram à região norte da Coreia do Sul, incluindo a capital, Seul, e a província de Gyeonggi, onde reside cerca da metade da população do país. Desde o início da campanha de Pyongyang na última terça-feira, aproximadamente mil balões foram detectados, alguns deles contendo fezes de animais, informaram autoridades sul-coreanas. Já os balões lançados neste domingo continham resíduos como pontas de cigarro, papel, pedaços de tecido e plástico, sem substâncias perigosas.
As autoridades sul-coreanas pedem à população que evite o contato com esses balões e os reportem às unidades militares ou estações policiais mais próximas.
De acordo com informações vindas de Pyongyang, o número total de balões enviados foi ainda maior: 3.500 infláveis que carregavam 15 toneladas de lixo, de acordo com o vice-ministro da Defesa da Coreia do Norte, Kim Kang-il. Em comunicado divulgado pela agência estatal, o funcionário afirmou que a Coreia do Sul agora teve uma amostra de como é sujo coletar rejeitos.
Desertores da Coreia do Norte
Ao enviar esses objetos por balões para o espaço aéreo vizinho, Pyongyang afirma estar retaliando ações de desertores norte-coreanos que vivem na Coreia do Sul e espalharam panfletos e outros materiais sujos na fronteira. Ativistas sul-coreanos enviam regularmente balões contendo panfletos anti-Pyongyang, comida, remédios, dinheiro e pen drives com vídeos de K-pop, estilo de música sul-coreana considerada má influência pelo ditador Kim Jong-un.
Na quarta-feira, 29, um funcionário do gabinete presidencial da Coreia do Sul afirmou que Seul responderia com calma à provocação. No entanto, neste domingo, o gabinete do presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol acusou o país vizinho de realizar provocações sujas que nenhum país normal imaginaria e afirmou que Seul começaria a tomar medidas que a Coreia do Norte consideraria insuportáveis.
Ameaça com K-pop
Entre essas medidas poderiam estar incluídas a transmissão de propaganda e de K-pop por alto-falantes ao longo da fronteira. Essa ação é considerada tão ameaçadora pelo ditador norte-coreano que ele já a chamou de “cancro cruel“.
Embora as provocações entre os dois países sejam comuns desde o armistício da Guerra da Coreia em 1953, as ações normalmente envolvem exercícios militares e lançamentos de foguetes. Por exemplo, na última quinta-feira, a Coreia do Norte disparou cerca de dez mísseis balísticos de curto alcance nas águas ao leste da península, segundo informações de Seul.
A estratégia adotada nos últimos dias remete à Guerra Fria, quando tanto a Coreia do Norte quanto a Coreia do Sul tentavam influenciar uma à outra por meio de transmissões de rádio. Ao longo da zona desmilitarizada, alto-falantes bombardeavam soldados rivais com canções de propaganda, e cartazes incentivavam os militares a desertarem para um “paraíso do povo” no Norte ou para o Sul livre e democrático.
Naquela época, o envio de balões ao espaço aéreo vizinho já ocorria em ambos os lados. Milhões de panfletos difamando o país vizinho foram espalhados pela Península Coreana – material que ambas as Coreias proibiram a população de ler ou guardar. No Sul, a polícia chegou a recompensar crianças que denunciavam os panfletos encontrados com lápis e outros materiais escolares.
Fonte: O Antagonista