O procedimento de pavimentação asfáltica é um dos mais importantes quando se fala de infraestrutura nas cidades e transporte viário
Atualmente, a situação da pavimentação no Brasil apresenta alguns desafios. Segundo dados de 2019 do Anuário CNT do Transporte, a infraestrutura disponível para os automóveis nas rodovias não atende à crescente demanda. De 2009 a 2019, a frota de veículos aumentou 74,1%, enquanto a malha disponível cresceu apenas 0,5%.
De acordo com estatísticas do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), são quase nove milhões de carros, motos, caminhões, ônibus e demais maquinários pesados em circulação nas ruas, estradas e rodovias do Brasil. Esse fluxo é responsável pela ocorrência de acidentes em grandes proporções, seja por falhas humanas, sinalização de trânsito inadequada ou inexistente e até mesmo danos estruturais que comprometem a segurança nas vias.
Além disso, a qualidade do pavimento também deixa a desejar pela falta de investimento no setor de transporte. Segundo a pesquisa, 59% das rodovias brasileiras foram avaliadas como regulares, ruins ou péssimas.
Tendo esse cenário em vista, entenda qual a necessidade de pavimentar, o que é e como esse procedimento impacta as cidades brasileiras.
Por que pavimentar as ruas?
A história da pavimentação no Brasil tem início na década de 1950 com a chegada da indústria automobilística. Para iniciar o processo de industrialização, os governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek deveriam oferecer garantias de atuação no mercado brasileiro e, para isso, estradas deveriam existir para comportar o fluxo de veículos.
Desde então, o que temos visto é a crescente utilização desse tipo de material, justamente por apresentar uma série de benefícios. Essa camada densa tem como função:
- Resistir e distribuir ao subleito os impactos na superfície;
- Melhorar as condições de rolamento, proporcionando comodidade e segurança;
- Resistir aos esforços horizontais, ou seja, as forças exercidas pelo deslocamento nas vias, tornando mais durável a superfície de rolamento;
- As espessuras das camadas constituintes de uma obra de pavimentação irão depender de características como, por exemplo, tipo do terreno, intensidade do tráfego e qualidade dos materiais empregados nas diferentes camadas estruturais do pavimento.
Hoje, essa estrutura é responsável por uma série de benefícios à sociedade, uma vez que permite a conexão com outras regiões da cidade, facilitando o acesso da população aos diversos serviços e opções de lazer ou, simplesmente, a estabelecer a melhor rota para deslocamento.
O que é pavimentação asfáltica?
De acordo com o livro Pavimentação Asfáltica – Formação básica para engenheiros, podemos definir pavimento como:
“Uma estrutura de múltiplas camadas de espessuras finitas, construída sobre a superfície final de terraplenagem, destinada técnica e economicamente a resistir aos esforços oriundos do tráfego de veículos e do clima, e a propiciar aos usuários melhoria nas condições de rolamento, com conforto, economia e segurança”.
Ou seja, a pavimentação asfáltica é um conjunto de estruturas que tem como objetivo melhorar e facilitar a locomoção de veículos.
Esse tipo de pavimento é dividido em 4 estruturas:
– Revestimento asfáltico: Tem como objetivo resistir às ações do tráfego intenso, diminuindo a pressão para as sub-camadas, impermeabilizando o asfalto e melhorando as condições de rolamento.
É importante ressaltar que a maioria dos problemas de desgaste e deformação da pavimentação asfáltica está ligada ao revestimento.
– Base: É a camada abaixo do revestimento e tem como função resistir aos esforços gerados pelos veículos e distribuí-los para as camadas inferiores.
– Sub-base: A sub-base é complementar à camada superior.
– Reforço do subleito: Por fim, o reforço serve como suporte, reduzindo a espessura da sub-base e evitando gastos adicionais.
Além dessa estrutura, os pavimentos podem ser divididos em duas categorias: rígidos e flexíveis, ambos usados em diferentes situações. Isso porque um projeto de pavimentação deve considerar a base do terreno, o fluxo e o clima local.
O pavimento rígido tem como base placas de concreto e é mais utilizado em vias em que o tráfego é intenso e precisa suportar pressões externas, como cargas pesadas. Já o pavimento flexível tem base granular e revestimento asfáltico, sendo o mais comum e utilizado no Brasil.
Esse tipo de material possui um custo de implantação menor e permite que os reparos sejam realizados mais facilmente.
Qual o impacto nas cidades?
Agora que já entendemos o que é, vamos compreender por que a pavimentação asfáltica é tão importante e como a má qualidade de um asfalto pode impactar as cidades. Primeiramente, é importante nos atentar a dois fatores: a qualidade e a durabilidade da pavimentação. Como vimos na pesquisa realizada pelo CNT, praticamente 60% das rodovias brasileiras foram avaliadas como regulares, ruins ou péssimas.
Isso tem origem em alguns fatores fundamentais, como: falta de planejamento, poucos recursos destinados à área, baixa qualidade no material escolhido para o pavimento e manutenção realizada de forma equivocada.
Vejamos alguns dos fatores com mais detalhes:
Chuva ou tráfego
A chuva e o tráfego de veículos com muita carga podem fazer com que a pavimentação asfáltica apresente alguns problemas, como rachaduras e buracos.
A água e o tráfego agem simultaneamente no pavimento asfáltico. Dessa forma, com as chuvas recorrentes e uma vedação realizada de forma incorreta, a água penetra no subsolo, afrouxando as camadas superiores. Já o tráfego intenso de veículos, como caminhões de carga pesada, intensifica a corrosão do solo e faz com que o pavimento seja danificado dia após dia.
Um exemplo dessa situação foi noticiado recentemente em São Paulo. De acordo com o portal G1, as chuvas na cidade têm piorado a situação do asfalto de algumas ruas e avenidas. Afinal, basta uma fissura não resolvida para a água da chuva causar um estrago.
A Avenida Jornalista Paulo Zingg, Zona Oeste de SP, está com asfalto cheio de buracos em toda sua extensão. Ainda de acordo com o portal de notícias, as pedras da base estão se soltando, o que piora com o tráfego intenso na via.
Dessa forma, o pesquisador Rubens Vieira do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) afirma: “A água pode penetrar nessas fissuras e ir lavando esse revestimento, removendo o asfalto do concreto asfáltico e aí vai formar como se fosse uma cárie em dente, vai abrindo buraco até atingir camadas de baixo e aí o pavimento pode ter ruptura total”.
Manutenção
A falta de manutenção ou os reparos realizados de forma incorreta é outro fator relevante quando falamos em má conservação do pavimento asfáltico. Em algumas cidades, por exemplo, o cimento asfáltico é aplicado à frio sobre o asfalto danificado. Esse reparo, por sua vez, torna a pavimentação mais frágil, causando mais buracos na via.
Além disso, fazer as camadas abaixo do revestimento com espessuras maiores tendo como objetivo diminuir custos, pode levar a baixa durabilidade do asfalto. Outro fator que pode afetar negativamente a pavimentação asfáltica é a não periodicidade das manutenções.
É por isso que há as chamadas manutenções preventivas ou preditivas, cujo objetivo é antever os problemas, de forma que eles não se tornem ainda maiores. No caso da pavimentação asfáltica, a manutenção corretiva é também bastante relevante, uma vez que ela permite que reparos rápidos sejam realizados nas vias.
Porém, quando não há esse cronograma de manutenção citado acima, a população sente o impacto direto. Diante disso, o que a gestão que está à frente poderia fazer para mudar esse cenário?
Para o trabalho de manutenção das vias há possibilidade de realizar dois tipo de procedimentos: preventivos e corretivos.
Procedimentos preventivos
De acordo com o “Exati”, nesse caso, o objetivo é prevenir ou amenizar os efeitos dos agentes climáticos e mecânicos. Em outras palavras, isso quer dizer que há interferência direta dos raios solares, da ação das chuvas e das variações de temperatura, assim como dos desgastes provocados pela uso contínuo e demasiado das vias.
Cada ação de manutenção preventiva dependerá dos diagnósticos realizados pelos profissionais responsáveis. Nessa categoria, há utilização de parâmetros de qualidade para o correto manejo dos equipamentos e materiais trabalho. Nesse sentido, é comum utilizar os seguintes métodos:
- Identificação, remoção de resíduos e selagem das trincas utilizando um compostos de alta aderência;
- Aplicação da massa asfáltica, responsável por reduzir a entrada de água e a consequente oxidação do ligante asfáltico das camadas estruturais, prolongando a vida útil do pavimento;
- Aplicação do microrrevestimento asfáltico, a camada final do pavimento, cuja função é reduzir o desgaste por abrasão (contato direto com o solo) e aumentar a aderência dos pneus ao longo da via;
- É importante destacar que todas as obras concluídas podem ser utilizadas como base técnica para execução de novos projetos. A partir dos relatórios de obras é possível conhecer a realidade e as características de cada cidade, permitindo um melhor planejamento das soluções de mobilidade que serão aplicadas a cada situação.
Procedimentos corretivos
De acordo com especialistas da área de engenharia, o ideal é promover intervenções corretivas de modo esporádico, focando sempre em ações de prevenção. Dessa forma, evita-se que as vias fiquem com muitas deformidades causadas por remendos, saindo dos padrões adequados para rodagem.
Entretanto, a deterioração é inevitável, ainda mais em trechos com tráfego intenso. As propriedades físicas da camada de asfalto mudam com o tempo. Em geral, quando a pasta de asfalto envelhece, sua viscosidade aumenta e se torna mais rígida e quebradiça.
Em algum momento ações mais intensas serão necessárias para resolver os problemas identificados. Para tanto, antes de executar quaisquer que sejam as medidas corretivas deve-se elaborar um projeto com todas as especificações da obra, equipamentos necessários e dimensionamento do pavimento.
Esse processo evita o desperdício de materiais e reduz os esforços das equipes de trabalho, otimizando o tempo nas operações de manutenção. Há casos emergenciais em que não se tem um projeto definido e, por essa razão, é comum que as prestadoras de serviço utilizem uma espécie de receita genérica para solução dos problemas.
As práticas relacionadas aos procedimentos corretivos são:
- Remendo superficial do pavimento, a depender da profundidade do defeito existente.
- Remendo profundo do pavimento, quando os danos atingiram camadas subjacentes. Aqui, há todo um trabalho de escavação para, então, recompor as camadas estruturais;
- Aplicação de microrrevestimento asfáltico para isolamento da área e conforto na rodagem, bem como a reaplicação das sinalizações viárias;
- Modernização das vias urbanas;
- Uma cidade moderna e bem estruturada não se preocupa apenas em realizar a manutenção de suas ruas e avenidas. Há outros fatores que proporcionam conforto, harmonia e segurança no deslocamentos da população que também necessitam de cuidados especiais.
Um deles trata-se das áreas paralelas às vias, destinadas exclusivamente aos pedestres: as calçadas. Um estudo promovido pela Campanha Calçadas do Brasil 2019, realizado pela Mobilize Brasil em setembro, avaliou a condição de calçadas, sinalização para pedestres, conforto e a segurança para quem caminha nos entornos de edificações públicas nas capitais Brasil afora. O levantamento apontou que nas capitais do país encontram-se calçadas estreitas, buracos, degraus, postes, faixas de travessia apagadas, semáforos ausentes ou deficientes, ambientes poluídos e ausência de locais para descanso e refúgio de dias quentes ou de chuva.
Tudo isso afeta diretamente o simples ato de andar pelas vias públicas de forma ergonômica, sustentável e segura. É importante destacar que este estudo somente analisou as calçadas considerando o entorno de prédios públicos nas capitais do Brasil. Portanto, pode-se imaginar que esse tipo de situação se repita por todo o território brasileiro.
Além das calçadas, os serviços de limpeza, coleta de resíduos e o manejo de vias arborizadas também fazem parte do conjunto de estratégia de manutenção viária.
Todas essas ações atuam como prevenção a possíveis acidentes, uma vez que se passa a levar em consideração todos os aspectos que ofereçam riscos ao deslocamento da população. Desse forma, a manutenção se torna eficiente e gera segurança, assegurando o direito de ir e vir de todos aqueles que utilizam essa estrutura.
Da Redação
Fontes: Exati, G1