Crédito: CR2 Transparência Pública
Geralmente, após toda eleição Municipal, enfrento alguns problemas de descontinuidade da
Gestão Pública, principalmente na área que atuo diretamente, o Tributos.
Claro, o processo eleitoral que temos, prevê esta mudança de 4 em 4 anos, e temos que estar
preparados para esta situação, ou deveríamos estar.
Porem, o que acontece é que, sobre o ponto de vista dos cargos de confiança, há total liberdade
de escolha para realizar qualquer troca, e geralmente estas trocas são políticas e não técnicas.
Se for uma politica marcante da oposição então, não há a mínima chance de continuação, mesmo
se a politica adotada ate então, estiver funcionando e dando resultados para o povo e para a
arrecadação municipal.
Quantas vezes eu vivi na pele isso, construir controles, processos, entre outros e ver tudo ir para
os ares, após a oposição à atual administração assumir.
Até hoje não consigo entender como é possível, incinerar ou descartar papeis novos (
literalmente cheirando a novo ) porque constam a cor da administração anterior. Confesso que
já usei vários para meus rascunhos no escritório, do dó jogar fora.
Também tenho enfrentado, durante esses mais de 10 anos atuando junto as Prefeituras
Municipais, a seguinte cena: Os novos secretários chegam, eles começam, propositalmente, todo
o trabalho do zero, sem considerar o que foi feito pela equipe passada ( nem mesmo os pontos
positivos que ocorreram ) e até possuem a prática comum de exonerar todo mundo dos cargos
de confiança já que não fazem parte do seu grupo político. Se existir um técnico
supercompetente que gostaria de ficar para poder dar continuidade ao seu trabalho e tocar com
qualidade determinada ação, não há vontade de mantê-lo só por mera politicagem – “como
assim eu vou valorizar alguém que não é do meu grupo, mesmo que essa pessoa seja mais
competente do que as pessoas que estão comigo eu preciso tirar ela daqui, já que ela estava na
outra gestão”.
Já vi acontecer o contrário também. Um prefeito que perdeu a eleição simplesmente apagar
todos os arquivos de sua gestão e ainda levar a chave da prefeitura. Ainda me contaram que isso
é mais normal do que a gente acha. E depois tem gente que fala: o Dr. Fabio parece bravo né.
Então…..
Dai o meu questionamento do mês: como realizar um planejamento a longo prazo, com esta
mentalidade política ?
Hoje por exemplo, tenho em andamento, projetos de fiscalizações de ISSQN, Simples Nacional,
MEI, divididos por ramos de atividade que provavelmente vão adentrar a nova administração, e
aí ? vai continuar mesmo dando resultado ? Sei lá, talvez nem eu mesmo continue na Prefeitura.
Projetos de regularização de cadastros por exemplo, que na maioria das Prefeituras estão todos
“podres” como costumamos chamar, será que continua também.
Meu trabalho hoje, também consiste em tentar colocar “na cabeça” dos novos gestores, que
esta visão é muito prejudicial a administração municipal. Mas confesso que a briga é desleal.
Sempre há uma visão imediatista e com o foco nas ações politicas relacionadas para a próxima
eleição. Falando de uma instituição como uma Prefeitura, o alto grau de complexidade e desafio
em sua construção não há como pensar apenas em planejamento de 4 em 4 anos. Instituições
com esse nível de responsabilidades precisam pensar em planejar os próximos 10, 15, 20 anos…
Até mais. Mas, infelizmente, impera o imediatismo.
Uma campanha eleitoral começa a mais ou menos 2 anos antes das eleições. Os políticos eleitos
começam a focar no que irá dar mais resultado no curto prazo em detrimento das ações mais
complexas, que iriam melhorar as ações do governo com o passar do tempo.
A lógica é a seguinte: “Se não der resultado logo, se eu não usar a máquina para fazer política,
eu vou acabar perdendo a eleição. Portanto, irei focar naquilo que irá me dar esse retorno
imediato”.
Lembro de um gestor super preocupado uma vez quando a oposição estava para ganhar e ele
tinha como certo que o planejamento estratégico para os próximos 10 anos, que foi feito em sua
prefeitura com muito empenho e gastou muito recursos para ser feito, seria jogado no lixo pelo
sucessor do prefeito que chegaria. – Foi o que aconteceu.
Também me pergunto como os Gestores Municipais, conseguem realizar seus trabalhos com
qualidade, nesta caótica forma de trabalhar. Claro, vamos ser justos, conheço vários Prefeitos
que realizam excelentes trabalhos e deixaram um legal importantíssimo para os seus Municípios.
Mas na maioria das vezes, é assustador.
Bom, hoje venho executando trabalhos com resultados, na maioria das vezes, a médio prazo. E
com certeza vou sofrer em algumas Prefeituras com essas eleições. Porem, continuo acreditando
neste trabalho. Organizar o cadastro municipal, implantar processos de controle e fiscalização
tributária, capacitar os servidores do setor de tributos e lançadoria, acompanhar as
possibilidades de recuperação tributaria para a Prefeitura, auxiliar na gestão dos problemas do
setor e apresentar sempre, uma elevação na arrecadação municipal.
Agora, a turma que vem precisa deixar tudo isso acontecer, porque as vezes começar do zero,
significa manter a arrecadação no zero também, por um bom tempo.
E viva a Democracia !!!!!
Fonte: Fabio Rogerio Rodrigues