Um de seus poemas mais célebres é “Os Estatutos do Homem”, escrito logo após a instauração do regime militar, que correu o mundo em várias traduções e começa com os versos “fica decretado que agora vale a verdade./ agora vale a vida,/ e de mãos dadas,/ marcharemos todos pela vida verdadeira”.
O texto foi incluído no livro “Faz Escuro, Mas Eu Canto: Porque a Manhã Vai Chegar”, publicado no ano seguinte, que teve sua frase-título lembrada como epígrafe na última Bienal de São Paulo.
Entre suas obras poéticas, também se destacam “Mormaço na Floresta”, “Vento Geral” e “Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida”. Em prosa, publicou livros como “Amazonas, Pátria da Água” e “Amazônia – A Menina dos Olhos do Mundo”, da década de 1990.
Sua última obra publicada foi pela editora Valer, no ano passado, e se chama “Notícias da Visitação que Fiz no Verão de 1953 ao Rio Amazonas e seus Barrancos”. É um relato antigo que estava inédito até 2021, segundo o editor Isaac Maciel.
“Thiago era a própria expressão da Amazônia”, afirma ele. “Além de a obra dele ser densa e de muito valor, ele tinha essa característica de levar a mensagem da floresta aonde quer que ele fosse.”
Mello cursou e abandonou no meio a faculdade de medicina, ingressando na diplomacia na década de 1950. Foi adido cultural na Bolívia e no Chile, tendo a carreira interrompida pelo golpe militar de 1964.
Por seu engajamento contra a ditadura, o poeta chegou a ser preso e passou anos no exílio, em países como Argentina, Portugal e Chile, onde vivia seu amigo Pablo Neruda, vencedor do Nobel de literatura cujos livros Mello traduziu para o português.
Durante a década de 1950 e 1960, o poeta circulou entre alguns dos maiores autores brasileiros, como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e José Lins do Rêgo.
Em entrevista a este jornal, há quatro anos, ele comentou que escrevia uma espécie de livro de memórias em que relatava suas impressões sobre esses poetas, assim como de grandes nomes internacionais que conheceu, como Gabriel García Márquez e Jorge Luis Borges —sobre quem, aliás, publicou a obra de não ficção “Borges na Luz de Borges”.
Desde que voltou ao Brasil, nos últimos anos da ditadura, Mello sempre viveu no Amazonas.
“É uma grande perda num momento tão crucial da democracia no Brasil”, diz Joaquim Rodrigues de Melo, dono da Banca do Largo, que o poeta costumava frequentar em Manaus. “Ele sempre foi um defensor da liberdade, sempre se posicionou politicamente, é uma referência para a liberdade.”
O velório será no palácio Rio Negro, na capital amazonense, em horário ainda a confirmar.
Da Redação