Senado aprova projeto que muda cálculo de vagas no legislativo mirando em partidos nanicos

O Senado aprovou, de forma definitiva, um projeto de lei que altera a distribuição de vagas no Legislativo e aumenta o risco para partidos nanicos. A mudança no cálculo das chamadas “sobras eleitorais” seguirá para sanção do presidente Jair Bolsonaro e precisa receber aval do chefe do Planalto até o próximo dia 2 para entrar em vigor nas eleições de 2022.

Nas eleições proporcionais, como é o caso da Câmara dos Deputados, das Câmaras de Vereadores e das Assembleias Legislativas, os eleitos não são necessariamente aqueles mais votados. O número de votos válidos na disputa é dividido pelo número de cadeiras no Legislativo, resultando no patamar que cada sigla precisa ter para eleger um representante, o chamado quociente eleitoral. Depois da distribuição, sobram algumas vagas, dependendo do resultado da eleição.

A sobra é distribuída atualmente entre todos os partidos no pleito, independentemente do desempenho de cada um. Com a nova lei, um partido terá que alcançar sozinho um patamar de 80% do quociente eleitoral para disputar as sobras. Além disso, só ficará com a vaga aquele candidato que atingir individualmente uma quantidade de votos equivalente a 20% do quociente eleitoral. Na prática, será mais difícil para um partido pequeno conseguir eleger vereadores, deputados estaduais e deputados federais.

Se a regra aprovada estivesse em vigor em 2018, o número de partidos com deputados eleitos naquele ano cairia de 30 para 24, de acordo com levantamento feito pela consultoria Neocortex com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicado no último dia 10 pelo Broadcast Político.

O fim das coligações e o veto do presidente Jair Bolsonaro às federações partidárias fecha ainda mais o cerco contra legendas menores. “É salutar a adoção de medidas que contribuam para o fortalecimento dos partidos, para a redução do enorme número de legendas e para a maior governabilidade”, afirmou o relator do projeto no Senado, Vanderlan Cardoso (PSD-GO).

De acordo com o levantamento, 17 partidos teriam eleitos menos deputados federais se a regra estivesse em vigor nas eleições de 2018. Seis deles, por exemplo, não teriam eleito ninguém: Rede, PTC, PRP, PPL, PHS e DC. Dessas legendas, apenas a Rede continua com a mesma configuração. Já se antecipando aos efeitos das mudanças recentes, os demais se fundiram a outras siglas.

A mudança nas sobras provocaria um efeito inverso e aumentaria a bancada para 13 partidos. O PSL, por exemplo, que emplacou deputados na onda da eleição do presidente Jair Bolsonaro, passaria de 52 para 75 vagas na Câmara. O Novo aumentaria de oito para 20. O Progressistas, partido do presidente da Casa, Arthur Lira (AL), teria eleito 41 deputados, três a mais que os 38 eleitos pela legenda em 2018.

A mudança ocorre na esteira de outras reformas eleitorais recentes que miraram em partidos pequenos para reduzir a fragmentação política do País: a cláusula de barreira, que limitou a distribuição do fundo partidário a partidos menores, e o fim das coligações proporcionais, que diminuiu a chance de candidatos nanicos pegarem “carona” na eleição de outros parlamentares.

Partidos pequenos sob risco de extinção pressionam pela derrubada do veto às federações partidárias. O veto deve ser analisado em uma sessão do Congresso na próxima segunda-feira, 27. Legendas como Rede, PCdoB e Cidadania correm o risco de diminuir de tamanho ou até mesmo ficar sem nenhum representante, provocando uma debandada de parlamentares para outras siglas no ano que vem. Nos bastidores do Legislativo, fala-se em quebra de acordo e falta de disposição para rejeitar o veto presidencial.

Da Redação

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