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Entrevista com Gláucio Lamarca

Nascido em Ubá, Minas Gerais, o arquiteto Gláucio Lamarca mora em São José dos Campos há 52 anos. O atual secretário de Mobilidade Urbana já acumula 30 anos de experiência no setor público.Pós-graduado em Planejamento e Gestão Estratégica de Projetos e MBA em Administração Pública e Gerência de Cidades, ele iniciou sua carreira como arquiteto na Secretaria de Transportes, chegando a secretário da pasta. De 2013 a 2016, trabalhou na Secretaria de Obras no Departamento de Edificações. 

De 2017 a 2020, foi o superintendente do Instituto de Previdência do Servidor Municipal. De 2021 até junho de 2022 foi secretário de Habitação e Obras.

Em entrevista, Lamarca fala sobre os desafios do cargo atual, como a aprovação de projetos na Secretaria, as obras previstas para a cidade nos próximos dois anos, o transporte público a partir da licitação dos ônibus elétricos e outros assuntos.

Como o senhor encara o desafio de ser secretário de mobilidade urbana de uma cidade pujante e em pleno desenvolvimento como São José dos Campos?

Eu sou um servidor público com 30 anos de serviços prestados à população de São José dos Campos. Como funcionário concursado, iniciei minha carreira como arquiteto em 1993, na Secretaria de Transportes, onde fui promovido aos cargos de monitor, supervisor, diretor do Departamento de Transportes Públicos, assessor técnico e secretário de Transportes. Por lá fiquei até 2012, o que me proporcionou experiência em diversos setores da Mobilidade.

Passei pelo Instituto da Previdência do Servidor e pela Secretaria de Gestão Habitacional e Obras, que me fizeram conhecer a administração pública de forma mais ampla e participar de bons projetos, para fazer a diferença. Estou agora em minha segunda passagem pela Secretaria de Mobilidade Urbana.

A mobilidade é sempre um desafio muito grande porque todas as ações que a Secretaria realiza envolvem e afetam a população de alguma forma, da bicicleta ao transporte público, o semáforo que não pode apagar, além das ações de educação para a mobilidade, novos projetos e obras viárias. Então é uma responsabilidade muito grande garantir que todos esses sistemas funcionem bem e atendam a população com qualidade.

Encaro esse desafio com foco na inovação e na responsabilidade com o futuro da cidade, sempre buscando o bem das pessoas e o desenvolvimento sustentável por meio de modos ativos, como a pé, bicicleta e patinete; além da requalificação dos espaços urbanos para pedestres e de investimentos no transporte público para torná-lo mais eficiente e ágil para estimular seu uso por todas as camadas sociais.

Como ter uma cidade que cresce rapidamente como a nossa e, ao mesmo tempo, manter a qualidade de vida?

Nós acreditamos que a qualidade de vida em São José está associada à busca por melhorias contínuas em ITS (Sistemas Inteligentes de Transporte) conectando a cidade por meio de diversas tecnologias como os semáforos inteligentes, radares, câmeras, zona azul, VLPs e até no monitoramento da qualidade do asfalto. Um sistema inteligente e com respostas rápidas.

Foi a busca por soluções sustentáveis e tecnológicas na mobilidade urbana um dos fatores que garantiu a São José dos Campos, em 2022, a certificação como a primeira Cidade Inteligente, Resiliente e Sustentável do Brasil, com base em três normas internacionais NBR ISO (International Organization for Standardization). É um reconhecimento dos esforços do município em ações para o desenvolvimento sustentável, onde também se enquadram projetos para alteração da matriz energética na mobilidade urbana, como a Linha Verde e aquisição dos VLPs (Veículos Leves sobre Pneus). É uma linha de conduta que pretendemos seguir, com a ampliação da Linha Verde e com a locação da frota elétrica no transporte público.

Queremos a substituição dos ônibus tradicionais, que utilizam combustíveis fósseis, por veículos elétricos, um modelo sustentável que já materializamos na Linha Verde e que queremos implementar também na nova licitação do transporte coletivo. Na mesma linha, estamos investindo na ampliação da rede de ciclovias e buscando a integração deste modal com o transporte coletivo urbano.

Quais as obras de mobilidade estão previstas para os próximos 2 anos?

O pacote de obras inclui a construção de novas vias estruturais, a duplicação de corredores viários, recapeamento de diversas avenidas e a ampliação do sistema cicloviário. As obras fazem parte do plano de gestão da atual administração e irão melhorar a fluidez no trânsito em todas as regiões da cidade.

Já está em andamento a construção da Via Jaguari, que terá 5,6 quilômetros, interligando a região norte e a região central da cidade através da criação de um novo acesso. Também em andamento está a duplicação da João Rodolfo Castelli, no Putim.  O pacote de obras na avenida Florestan Fernandes, o Anel Viário, inclui alargamento de via, recapeamento asfáltico, além da implantação de novo acesso à avenida José Longo e de ciclovia, e foi iniciado em março deste ano.

 Na região norte, o programa de qualificação viária inclui intervenções nas principais avenidas e está em licitação. Está previsto um investimento de R$ 20,8 milhões para a recuperação de cerca de 7,3 quilômetros em treze corredores viários.

Ainda na zona norte, está prevista a duplicação da rua Jaguari. Em elaboração de projeto executivo, a duplicação da Avenida Livio Veneziani, entre o Jardim Uirá e o Residencial São Francisco.  Em obras, melhorias na Linneu de Moura.

Também está previsto um pacote de recapeamento em diversas ruas da região central e oeste, além de diversos corredores viários. Serão 71 vias, sendo 33 corredores, que juntos somam mais de 44 quilômetros de pavimentação.

No planejamento deste ano também está previsto um pacote de PMVs (Projeto de Melhoria Viária) com a construção de passeios públicos, rampas de acessibilidade, travessias elevadas, além da substituição de prismas por ilhas físicas de proteção ao pedestre e da instalação de lombadas. Na principal via de acesso à zona norte, o projeto de requalificação e melhoria viária da Avenida Sebastião Gualberto prevê a execução de obras de artes (viaduto e túnel) com três níveis de pista –viaduto, túnel e pista em nível– para garantir uma conexão mais eficiente com a Fundo do Vale (Avenida Teotônio Vilela/Anel Viário) por meio de um túnel.

O complexo prevê ainda outra ligação entre a avenida João Marson e o Anel Viário por meio de um viaduto e a ligação com a zona norte com pista em nível. Com a requalificação, a Sebastião Gualberto passará a ter três faixas de rolamento em cada sentido de circulação, além da implantação de sistema cicloviário.

Na região leste, o pacote de projetos inclui a duplicação da estrada do Bom Retiro, que vai da rua dos Topógrafos até o cemitério Memória Bom Retiro, com 2,7 quilômetros de extensão, e da estrada do Cajuru em um trajeto de dois quilômetros do Terminal Eco até o Set Parque. Os projetos executivos já estão em licitação.

Na zona sul, está em licitação o projeto executivo do alargamento de dois quilômetros da rua João Miacci, entre a avenida Adilson José da Cruz e a rua Alexandre Teodoro Eras. Também está prevista a 3ª fase da Via Oeste, com a construção de um novo trecho de cerca de três quilômetros entre a rotatória do mirante do Limoeiro, no final da Via Oeste, até a divisa com Jacareí.

Com 158 quilômetros de sistema cicloviário, São José dos Campos prevê investimentos para ampliar em mais 67 quilômetros o espaço destinado aos ciclistas. Todas as novas obras já nascem com ciclovias, além de obras como a ciclovia da GM, que irá ligar o viaduto da Vista Verde ao Eugênio de Melo, a ciclovia que irá ligar o DCTA ao bairro São Judas Tadeu em um percurso de 8 quilômetros e a ciclovia do Anel Viário, entre outras.

Para incentivar o uso de modais sustentáveis, a Prefeitura trabalha na contratação de um serviço de bicicletas públicas compartilhadas em 35 estações posicionadas em áreas atendidas pelo sistema de transporte público.

Há reclamação de associados em relação à demora de aprovação de projetos na Secretaria de Mobilidade Urbana. Como o senhor está encarando o desafio de dar agilidade a essas aprovações?

A revisão de procedimentos internos e o reforço da equipe são algumas das ações implantadas para dar celeridade à aprovação de projetos, pois entendemos que o setor construtivo tem um grande peso e contribuição no desenvolvimento e na economia da cidade. É nossa prioridade dar celeridade aos processos, seguindo a legislação.

Como será o transporte público em São José dos Campos a partir da licitação dos ônibus elétricos em andamento?

Com uma demanda média de 5 milhões de passageiros por mês, operamos o sistema de transporte público com 101 linhas regulares operadas por 337 ônibus convencionais e que circulam cerca de 2,5 milhões de quilômetros por mês, dividindo espaço com uma frota de 472 mil veículos.

Neste cenário, estamos investindo na mudança gradual da matriz energética com a estruturação de um ecossistema de mobilidade que inclui a produção de energia mais barata e limpa, a adoção de frota elétrica e a integração do sistema do transporte público com modais complementares como as bicicletas compartilhadas e por meio da ampliação do sistema cicloviário.

Entendemos que a mudança na matriz energética da frota é uma das alternativas mais impactantes na redução das emissões e na poluição sonora das áreas urbanas. A Prefeitura trabalha para substituir a frota convencional do transporte público por ônibus elétricos. O edital foi publicado.

A frota totalmente zero quilômetro será composta por 400 ônibus, 100% elétricos (divididos em três modelos), com ar-condicionado e outras comodidades, como carregador USB e ar-condicionado. Em outro momento, será realizada licitação para o sistema de carregamento e, se necessário, da energia elétrica. Além dos ônibus, a Prefeitura fará uma nova licitação para contratação da operação do sistema, gestão financeira, planejamento, monitoramento e fiscalização.

Há previsão de ampliação da linha verde?

Sim, o projeto executivo do Anel Viário Leste, segunda etapa da Linha Verde, que vai ligar a região central até o Parque Tecnológico, na zona leste, já está em fase final de licitação. O prazo para elaboração do projeto executivo é de seis meses. O projeto executivo tem como objetivo fazer o mapeamento completo do novo sistema viário e identificar as interferências e obras de arte estruturais necessárias, de forma a consolidar o projeto proposto.

Nos estudos são apresentados dados como ensaios de solo, sondagens, mapeamento de interferências, licenças ambientais, simulação e sugestões de encaixe do viário já existente, dimensionamento do tráfego esperado e desvios necessários, além das obras de arte, como pontes e túneis, que precisam de cálculos estruturais. O projeto executivo também apresenta a tabela orçamentária da obra para a licitação da obra.

Corredor – O novo corredor terá cerca de 12,7 quilômetros de extensão, sendo 7 deles dentro da área da CTEEP (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista), interligando a Rodoviária Nova ao Parque Tecnológico.

*Entrevista realizada em parceria com a Prefeitura de São José dos Campos e a ACONVAP

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