EBC deve expandir ação nos municípios

O presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Hélio Doyle, sabe dos grandes desafios que tem em mãos para consolidar e tornar relevante a comunicação pública, cuja empresa que dirige saiu da lista das empresas privatizáveis. Reconhece que no mundo da convergência de mídias a EBC está muito atrasada, e tomou o primeiro passo para mudar esse cenário ao criar uma superintendência para cuidar do mundo convergente.

Nesta entrevista à Revista Prefeitos & Governantes, Doyle, afirma que no Brasil, o conceito de comunicação pública ainda não é bem compreendido pela sociedade em geral. Segundo ele, uma das tarefas da empresa é mostrar qual a sua importância. Esse nível de incompreensão, de acordo com ele, às vezes se reflete no governo também. “É por isso que a gente também quer deixar muito claro que a EBC faz comunicação pública e presta serviço ao governo. A gente não quer deixar de prestar serviço ao governo, mas a prestação de serviço ao governo não se confunde com comunicação pública”, explicou ele.

Confira a entrevista completa abaixo:

Prefeitos & Governantes: Quantos municípios a EBC atinge hoje com qualidade digital? O que tem sido realizado para alcançar aquelas regiões que ainda não recebem?

Hélio Doyle: Nós temos trabalhado intensamente para que os conteúdos produzidos pelas nossas emissoras cheguem a todo o país. Atualmente, nossas 65 emissoras parceiras da Rede Nacional de Comunicação Pública levam o sinal da TV Brasil a 2.267 municípios. E vamos expandir. Além disso, é importante ressaltar que, além da TV Brasil, a EBC conta com sete emissoras de rádio, inclusive a Rádio Nacional da Amazônia, que transmite em ondas curtas e leva informação de qualidade e de utilidade pública a comunidades remotas da região, além das 30 emissoras de rádio que também compõem a RNCP e transmitem o conteúdo que é por nós produzido. 

Prefeitos & Governantes: Como a EBC trabalha para mostrar a diversidade dos municípios brasileiros? Projetos?

Hélio Doyle: Mostrar a diversidade e pluralidade do Brasil na nossa programação não é só uma diretriz editorial, mas uma obrigação legal. Nós estamos trabalhando na nova programação da TV Brasil para que ela reflita essa diversidade, trazendo, por exemplo, as manifestações culturais de todas as partes do país. Estamos buscando parcerias novas, com as emissoras das universidades federais, por exemplo, para trazer esses conteúdos para a nossa grade. 

Prefeitos & Governantes: Como você vê hoje o papel da TV pública e da rádio pública dentro desse cenário de convergência de streaming, de muita produção de conteúdo, de internet entrando na vida de todo mundo?

Hélio Doyle: Nosso papel, como emissoras públicas, é justamente complementar ao do sistema privado. No caso das rádios, por exemplo, é colocar no ar uma programação musical de qualidade independentemente de amarras comerciais. A EBC ainda não está preparada para encarar essa nova realidade de convergência, mas estamos nos preparando. A gente criou na nova estrutura da empresa uma Superintendência de Comunicação Digital e Mídias Sociais, há ainda um grupo de trabalho examinando os portais de internet para atualizar nossas plataformas dentro dessa nova realidade. Sabemos que, em breve, o streaming e a internet terão um papel maior do que a televisão, mas a televisão aberta ainda tem um grande alcance. A TV aberta atinge populações que têm pouco acesso a outras formas de comunicação. 

Prefeitos & Governantes: Do ponto de vista da TV pública, você disse que a preocupação maior não é audiência. Como enxerga a questão da produção de conteúdo na TV pública hoje? 

Hélio Doyle: Nós não queremos disputar a audiência do ponto de vista comercial, mas é claro que temos de formar a nossa audiência. A EBC não tem essa preocupação porque não podemos ter publicidade, a não ser institucional. Não podemos vender produtos e serviços. Isso é um pressuposto da comunicação pública no Brasil. Nós temos hoje uma questão orçamentária e de pessoal que limita essa produção de conteúdo, mas vamos buscar os meios necessários para ampliar os conteúdos de qualidade na nossa grade. E apostamos muito nas parcerias e no fortalecimento da nossa Rede Nacional de Comunicação Pública para atingir esse objetivo. 

Prefeitos & Governantes: Qual a programação que está sendo desenvolvida para conquistar a audiência?

Hélio Doyle: Estamos formatando uma nova grade para a TV Brasil. A gente precisa ter na EBC uma programação característica de emissora pública. Significa uma preocupação com a cultura, com a educação, com a cidadania, e com a diversidade regional e cultural que o Brasil tem. E também a diversidade da informação. São preocupações que independem de audiência. Mas vamos ainda fortalecer o esporte e queremos manter uma faixa de dramaturgia na programação da TV, que são conteúdos que a gente sabe que atraem um grande público. 

Prefeitos & Governantes: Mas vocês recebem uma parcela dos recursos do setor de telecomunicações, não? Me lembro que as operadoras chegaram a depositar os recursos em juízo, mas depois foi feito um acordo, não? 

Hélio Doyle: Não recebemos todos os recursos. Foi feito um acordo com algumas empresas do setor. Hoje, são arrecadados R$ 230 milhões anuais no fundo criado para a TV pública, mas os recursos não têm vindo para a EBC.

 Prefeitos & Governantes: Mas, na verdade, com a criação desse fundo, é o usuário do celular que está contribuindo para a TV Pública. 

Hélio Doyle:  O que fica para a gente é muito pouco para sustentar a EBC sozinha. Estamos negociando para ficar, pelo menos, com 75% do valor que é arrecadado, cerca de mais de R$ 53 milhões ao ano. Queremos que 22,5% sejam investidos nas emissoras afiliadas para fortalecer nossas parcerias. 

Prefeitos & Governantes: E o processo de digitalização, como está?

Hélio Doyle: Está andando e vamos expandir pelas prefeituras. Tanto para nós, quanto para o Governo Federal, interessa expandir a rede. Recentemente, assinamos acordo com a TVE Bahia para estender seu sinal para mais 116 municípios.

Prefeitos & Governantes: Como você enxerga a empresa daqui a quatro anos?

Hélio Doyle: Espero que a gente tenha tornado a EBC protagonista na comunicação pública brasileira e fortalecido a empresa, tanto para a sociedade, quanto para os empregados. Espero que a EBC esteja funcionando de uma maneira mais racional e que a gente possa ter uma programação de relevância, de qualidade, de credibilidade, e que a gente crie uma base para continuar esse trabalho. Em quatro anos não vamos ter a EBC dos sonhos, mas criar as bases para que os que vierem depois possam prosseguir esse trabalho. 

Prefeitos & Governantes: Você acha que o governo, seja qual for, consegue entender qual é o papel de uma TV pública?

Hélio Doyle: No Brasil, o conceito de comunicação pública ainda não é bem compreendido pela sociedade em geral. Uma das nossas tarefas é mostrar qual a sua importância. Esse nível de incompreensão às vezes se reflete no governo também. É por isso que a gente também quer deixar muito claro que a EBC faz comunicação pública e presta serviço ao Governo. A gente não quer deixar de prestar serviço ao Governo, mas a prestação de serviço ao Governo não se confunde com comunicação pública.  

Entrevista realizada em parceria com a Assessoria de Imprensa da EBC e Revista Prefeitos & Governantes

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